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Abusos sexuais na Igreja: como persistir na fé, apesar dos escândalos

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Cristian.Bucur | Shutterstock

Reportagem local - publicado em 06/10/21

Todos nós teríamos que sair da Igreja, caso ela fosse uma comunidade apenas dos que merecem o prêmio da perfeição

O relatório que revelou os escandalosos casos de abuso sexual na Igreja da França cometidos por clérigos ao longo de 70 anos voltou a deixar muitos católicos revoltados. Mais do que isso: a decepção com a prática abusiva de alguns clérigos acaba por provocar uma certa crise de fé. Isso porque tendemos a acreditar na Igreja e em seus membros como entidades santas, infalíveis.

Entretanto, é em situações como esta que devemos nos lembrar que “a Igreja só é santa porque é de Cristo, não nossa”.

Igreja santa?

Em artigo publicado pela Aleteia em 2018, o professor Miguel Pastorino, que é especialista em ecumenismo e história das religiões, explicou: afirmar que a Igreja é santa não significa afirmar que todos os seus membros são santos.

O autor enfatizou que Joseph Ratzinger já alertou que o sonho de uma igreja imaculada renasce em todas as épocas. Além disso, para o Papa Emérito as mais duras críticas à Igreja têm origem neste sonho irreal:

“A santidade da Igreja consiste no poder pelo qual Deus opera a santidade nela, dentro da pecaminosidade humana. É um dom de Deus, uma graça, que permanece apesar da infidelidade humana. É expressão do amor de Deus que não se deixa vencer pela incapacidade do homem, mas, apesar de tudo, sempre volta a mostrar-se-lhe bondoso, a recebê-lo exatamente como pecador, a voltar-se para o homem, a santificá-lo, a amá-lo”.

Joseph Ratzinger

Aproximar-se dos pecadores

Pastorino destaca ainda que a ideia de que a Igreja não se mistura com o pecado é um pensamento simplista e irreal. Neste sentido, o autor reproduz outro pensamento importante de Ratzinger acerca da incapacidade de Cristo de destruir os pecadores:

“Sua santidade revelava-se precisamente como procura dos pecadores que Jesus atraía para perto de si; como um misturar-se até o extremo de ele mesmo se ter tornado ‘pecado’, carregando a maldição da lei em seu suplício (…). Jesus atraiu a si o pecado e tornou-o parte dele, revelando deste modo o que é a autêntica ‘santidade’: não isolamento, não julgamento, mas amor salvador.”

Para Ratzinger, portanto, a imagem da justaposição entre a santidade de Cristo e a infidelidade humana é a dramática figura da graça neste mundo, pela qual se faz visível o amor gratuito e incondicional de Deus, que tanto ontem quanto hoje se senta para comer na mesa dos pecadores.

Igreja consoladora

Outra reflexão que o artigo provoca é a seguinte:

“A santidade quase imperceptível da Igreja tem algo de consolador. Porque nós certamente iríamos nos desanimar diante de uma santidade imaculada, judicial e arrasadora que não abraçasse a fragilidade humana e não oferecesse sempre o perdão a quem se arrepende de coração. De fato, todos teríamos que sair da Igreja, caso ela fosse uma comunidade dos que merecem o prêmio da perfeição.”

Abusos sexuais e milagres cotidianos

Os casos de abuso sexuais na Igreja da França nos fazem lembrar de uma importante declaração de uma leiga.

Em 2018, Nikki Haley, então embaixadora dos Estados Unidos junto à ONU, referiu-se aos escândalos de abusos sexuais cometidos por padres em seu país. Disse ela, de forma sábia, que seria “trágico” se os escândalos de abusos cegassem o mundo “diante das surpreendentes boas obras que a Igreja Católica realiza todos os dias”.

As boas obras, continuou ela, são “milagres que constituem o caminho da Igreja”, que faz um “trabalho incrível” para ajudar “milhões de pessoas desesperadas” em todo o planeta.

É nisso que devemos arraigar a nossa fé!

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