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Padre Luca Bovio, missionário na Ucrânia: “você sempre tem medo de ser atingido por um míssil”

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Père Bovio

Padre Luca Bovio (em primeiro plano) a caminho da Ucrânia com o padre Leszek Kryża e sua colaboradora Rika Itozawa.

Cyprien Viet - publicado em 18/07/23

O padre Luca Bovio, um sacerdote italiano de 53 anos, está intensificando seus esforços para ajudar os ucranianos que foram duramente atingidos pela guerra que assola o país desde fevereiro de 2022, tentando atender às suas necessidades materiais e espirituais

O padre Luca Bovio, 53 anos, sacerdote italiano em missão na Polônia, tem se envolvido ativamente na ajuda aos ucranianos desde o início da ofensiva russa naquele país, em 2022. O grande número de refugiados que ele acolheu em sua paróquia na Grande Varsóvia o levou a viajar para a Ucrânia, para visitar as pequenas comunidades que estão tentando sobreviver, até a linha de frente. Nascido em uma família de empresários milaneses, Luca Bovio entrou para os Missionários da Consolata na década de 1990, uma congregação que se concentra em igrejas pequenas e incipientes, inclusive na Mongólia, onde o Papa Francisco visitará no próximo mês. Padre Luca foi enviado para a Polônia há 15 anos, onde atualmente vive em comunidade com cinco confrades da Argentina, Quênia, Moçambique, Congo e Tanzânia.

O sacerdote italiano, que também é secretário nacional das Pontifícias Obras Missionárias na Polônia, viaja a todas as dioceses e seminários do país para difundir um espírito de abertura missionária, particularmente em relação aos países do Sul. Mas a Polônia é, acima de tudo, um trampolim para a missão no Oriente: “Visitei muitos países, a Bielorrússia, os Estados Bálticos, e também fui à Ucrânia pela primeira vez em 2017. Já havia sinais de guerra, mas ela estava confinada ao Donbass”, lembra ele.

Êxodo em massa e onda de solidariedade

Após a ofensiva russa em grande escala em 2022, as primeiras ondas de refugiados levaram os missionários da Consolata a se envolverem com os ucranianos que fugiam do país. “Durante a primeira fase, a pequena cidade onde moramos recebeu mais de 2.500 refugiados”, lembra ele. “Eram pessoas com histórias de partir o coração”, explica o Padre Luca, que ficou impressionado com a enorme quantidade de ajuda vinda da Itália. “Diversos grupos paroquiais, escoteiros e indivíduos vieram ajudar, alguns deles várias vezes”, ressalta ele, mencionando a colaboração efetiva de uma enfermeira de Turim, um médico da África do Sul e um voluntário do Canadá.

Trabalhando em estreita colaboração com uma grande paróquia vizinha, os missionários da Consolata organizaram um esforço maciço de ajuda para lidar com o influxo, que em seu pico foi de várias centenas de recém-chegados por dia. “É ótimo que não estejamos fazendo as coisas sozinhos, que estejamos aprendendo a ajudar uns aos outros”, diz ele.

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Padre Luca com moradores de Kharkiv que se refugiaram em um porão para escapar dos bombardeios

Em seguida, o Padre Luca foi convidado pelo Padre Leszek Kryża, sacerdote da Sociedade de Cristo para os Emigrantes Poloneses e coordenador da ajuda às Igrejas do Oriente dentro do episcopado polonês, a viajar para a Ucrânia em várias viagens, juntamente com sua colaboradora Rika Itozawa, uma ucraniana de ascendência russa e japonesa. A primeira tentativa foi um fracasso providencial: tendo esquecido seu passaporte, o Padre Luca não conseguiu atravessar a fronteira de carro, mas entrou na fila de refugiados como pedestre, compartilhando sua situação por quatro horas. Essa experiência o deixou fisicamente consciente da extrema precariedade da situação deles.

Apoio aos que permanecem

Padre Luca pôde então participar de seis viagens à Ucrânia, aproximando-se da linha de frente. “Fomos até Kharkiv, Dniepr e Zaporijia”, diz o padre italiano, que foi submetido a intenso estresse durante as primeiras noites de bombardeio. “Você pode sentir o medo. Em minha primeira noite em Kharkiv, em novembro de 2022, fiquei alerta ao primeiro ruído suspeito. Você sempre tem medo de ser atingido por um míssil, mas ver que algumas pessoas continuam a viver lá em meio à guerra lhe dá coragem”, explica ele.

Em suas rondas com o padre Leszek, um dos melhores especialistas da rede católica na Ucrânia, o padre Luca procurou distribuir roupas e alimentos, além de pequenos geradores, especialmente para lidar com os cortes de energia causados pelo bombardeio das estações elétricas. Graças a um doador em Milão que compra regularmente estoques de fraldas, o Padre Luca também conseguiu fornecer algumas fraldas para os hospitais ucranianos.

O objetivo é distribuir a ajuda ao maior número possível de comunidades, em especial à única paróquia católica de Kherson, que ainda tem de 15 a 20 pessoas. Um “pároco corajoso” permanece apesar dos bombardeios e tiroteios que pontuam a vida cotidiana nessa cidade próxima à linha de frente, explica o padre Luca. As pessoas que continuam a viver lá são geralmente idosos e deficientes, que não podem ou não querem viajar, mas que precisam de cuidados pastorais especiais.

Essas pessoas são testemunhas da resistência ucraniana, assim como os estudantes de Kiev, que continuam a frequentar a universidade apesar dos alertas frequentes. Padre Luca também se lembra do fazendeiro em seu trator que foi trabalhar em seu campo como se nada tivesse acontecido, enquanto mísseis caíam nas proximidades. “Uma escolha poderosa, que mostra que sua vida está aqui”, diz ele, explicando que, além dos horrores da guerra, essa vida quase normal também é “uma realidade a ser mostrada”. Pois é também dessa forma que o povo ucraniano ainda está tentando criar as condições não apenas para sua sobrevivência, mas também para seu renascimento.

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