A fé católica e o espiritismo são duas religiões que, surpreendentemente, muitas pessoas dizem professar de modo simultâneo, uma vez que possuem uma considerável quantidade de elementos em comum. Então, se há tanta coisa em comum, o que há de surpreendente no fato de que tantas pessoas se digam católicas e ao mesmo tempo espíritas?
O surpreendente nessa aparente “combinação” está justamente no fato de que, apesar das características comuns, a essência de cada uma dessas religiões é terminantemente incompatível com a essência da outra. A reencarnação, que está no cerne do espiritismo, nega de modo frontal a ressurreição, que está na base da fé cristã. Igualmente, a ressurreição elimina taxativamente a possibilidade da reencarnação, de modo que aquele que acredita em uma dessas doutrinas não pode simultaneamente professar a outra.
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Esta é certamente a principal e decisiva diferença entre catolicismo e espiritismo, mas não é a única. Vejamos algumas outras:
1 | Intermediação religiosa
A Igreja Católica possui uma hierarquia eclesiástica em que o papa é, terrenamente falando, a máxima autoridade. Além disso, com base nas palavras e ações de Jesus registradas nos Evangelhos, a fé católica ensina que existem certas formas específicas de “intermediação” junto a Deus que cabem a ministros consagrados: é o caso, para citar apenas o exemplo mais clássico, do sacramento da reconciliação, intermediado pelo sacerdote confessor conforme a Igreja entende que foi estabelecido por Cristo. Por outro lado, no espiritismo, é crença básica que os médiuns podem ser quaisquer pessoas dotadas dessa faculdade sem precisarem de uma ordenação formalizada por uma hierarquia, e que esses médiuns podem estabelecer contato direto com espíritos – muito embora, no fim das contas, eles também acabem exercendo o papel de intermediários entre as pessoas não-médiuns e o mundo espiritual.
2 | Vida após a morte
Como já vimos, o principal ponto de divergência entre a fé católica e o espiritismo está na incompatibilidade entre a ressurreição e a reencarnação. Diretamente relacionado com estas doutrinas está o entendimento de como é a vida após a morte. Para os católicos, ao sermos ressuscitados, podemos ser recebidos por Deus no céu, ser por Ele enviados ao purgatório ou, tragicamente, cair no inferno em decorrência das nossas próprias escolhas à revelia da misericórdia de Deus: tudo dependerá do justo julgamento divino sobre o estado da nossa alma no momento da nossa morte. Já no espiritismo, a crença na reencarnação implica que a alma passará por sucessivas vidas em busca de evolução e aprendizado, a despeito do fato que, via de regra, as pessoas não têm lembranças de uma vida passada.
3 | Outras diferenças
Existem inúmeras outras diferenças notáveis entre a fé católica e o espiritismo para além da doutrina: há também divergências sobre princípios morais, sobre a prática da oração e da ascese, sobre a ritualística litúrgica, sobre a Santíssima Trindade e sobre tantos outros aspectos.
Portanto, muito embora as duas religiões possuam diversas características em comum, é uma questão de objetividade e honestidade intelectual reconhecer as suas diferenças incompatíveis, para que a genuína busca de compreensão e respeito entre os seus seguidores não ignore as especificidades de cada doutrina em nome de uma suposta tolerância impositivamente homogeneizadora.
